Guia alerta sobre consumo precoce de bebidas alcoólicas entre jovens
40% dos adolescentes
brasileiros experimentaram álcool pela primeira vez entre 12 e 13 anos.
A ingestão precoce de álcool é
a principal causa de morte de jovens de 15 a 24 anos de idade em todas as
regiões do mundo. O dado está no Guia Prático de Orientação sobre o impacto das
bebidas alcoólicas para a saúde da criança e do adolescente, lançado pela
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Às vésperas do carnaval,
período em que há forte estímulo para a ingestão de bebidas alcoólicas, o
principal objetivo do documento é alertar pediatras, pais, professores e os
próprios adolescentes para os prejuízos do consumo precoce. A iniciativa é do
Departamento de Adolescência da SBP, que pretende mobilizar entidades,
educadores, familiares que atuam com crianças e adolescentes na prevenção do
uso de álcool na fase de desenvolvimento e promover hábitos saudáveis entre os
jovens.
“Estamos agora, antes do
carnaval, lançando esse manual de orientação, mostrando os danos do uso precoce
do álcool. De fato, as crianças e os adolescentes precisam de orientações
seguras para melhorar a qualidade de vida e seus hábitos, porque sabemos que há
uma exposição prejudicial deles ao álcool e às drogas”, explica a pediatra
Luciana Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Segundo estudos científicos
citados no guia, quase 40% dos adolescentes brasileiros experimentaram álcool
pela primeira vez entre 12 e 13 anos, em casa. A maioria deles bebe entre
familiares e amigos, estimulados por conhecidos que já bebem ou usam drogas.
Entre adolescentes de 12 a 18 anos que estudam nas redes pública e privada de
ensino, 60,5% declararam já ter consumido álcool.
As pesquisas mostram que o
tipo de bebida mais consumida entre os jovens varia de acordo com a região. No
Norte e Nordeste do país, a preferência é pela cerveja, seguida do vinho,
enquanto no Centro-Oeste, Sudeste e Sul há consumo maior de destilados, como
vodca, rum e tequila. Essas últimas, geralmente são mais consumidas em
“baladas”, onde é comum a mistura de álcool a outras bebidas não alcoólicas,
como refrigerantes ou sucos.
Consequências
Os médicos ressaltam que
quanto menor a idade de início da ingestão de bebida alcoólica, maiores as
possibilidades de se tornar um usuário dependente ao longo da vida. De acordo
com pesquisas, o consumo antes dos 16 anos aumenta significativamente o risco de
beber em excesso na idade adulta. “O indivíduo adolescente está numa idade em
que parte do cérebro ainda está se formando e que o comportamento impulsivo é
muito grande. Quem bebe precocemente tem muita chance de usar o álcool de forma
abusiva na vida adulta”, explicou Luciana Silva.
Para especialistas, o consumo
precoce pode levar a uma série de consequências nocivas. Os adolescentes que se
expõem ao uso excessivo de álcool podem ter sequelas neuroquímicas, emocionais,
déficit de memória, perda de rendimento escolar, retardo no aprendizado e no
desenvolvimento de habilidades, entre outros problemas.
O custo social do uso abusivo
de álcool também é elevado. Os adolescentes ficam mais expostos a situações de
violência sexual e tendem a apresentar comportamento de risco, como praticar
atividade sexual sem proteção, o que pode levar à gravidez precoce e à
exposição a doenças sexualmente transmissíveis.
O alcoolismo entre 12 e 19
anos também eleva a probabilidade de envolvimento dos jovens em acidentes de
trânsito, homicídios, suicídios e incidentes com armas de fogo. “A mortalidade
nessa faixa etária está intimamente ligada ao consumo precoce do álcool”,
alerta a pediatra.
Segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), cerca de 2,5 milhões de pessoas morrem a cada ano no mundo
devido ao consumo excessivo de álcool. O índice chega a 4% do total da
mortalidade mundial e é maior do que as mortes registradas em decorrência da
aids ou tuberculose.
O guia traz ainda dados de
pesquisas internacionais que mostram que nos Estados Unidos, a bebida alcoólica
está mais associada à morte do que todas as substâncias psicoativas ilícitas,
em conjunto. Segundo o manual, os acidentes automobilísticos associados ao
álcool são a principal causa de morte entre jovens de 16 a 20 anos, mais que o
dobro da prevalência entre os maiores de 21 anos.
Propaganda enganosa
Os especialistas que
elaboraram o documento afirmam que o consumo de álcool e drogas durante a
adolescência está associado a vários fatores, como a sensação juvenil de onipotência,
o desafio à estrutura familiar e social, à curiosidade e impulsividade,
necessidade de aceitação, busca de novas experiências e baixa autoestima.
O documento chama a atenção
para a forte influência de amigos que usam drogas e de um ambiente familiar
conturbado e desestruturado como fatores determinantes para o envolvimento
precoce de crianças e adolescentes com o álcool. Segundo a SBP, além dos
fatores individuais de predisposição juvenil, colaboram ainda o fácil acesso às
bebidas no Brasil e o marketing que associa o álcool a prazer, sucesso, beleza
e poder.
A entidade defende que
propagandas dessa natureza, em qualquer veículo, sejam completamente proibidas.
E que haja mais investimento em campanhas de prevenção que mostrem as reais
consequências e malefícios do consumo de álcool e drogas, já que a falta de
informação é apontada como outro fator que propicia o uso abusivo dessas
substâncias.
Crime
De acordo com o Estatuto da
Criança e do Adolescente, regulamentado pela Lei 13.106/ 2015, vender ou oferecer
bebida alcoólica para menores de 18 anos é crime que pode resultar em detenção
de dois a quatro anos do vendedor, aplicação de multa de até R$ 10 mil ou
interdição do local de venda. A lei não limita as punições aos comerciantes.
Qualquer adulto, inclusive familiares ou amigos que oferecem bebidas alcoólicas
a criança ou adolescente, está sujeito às sanções.
A legislação brasileira também
restringe o horário de veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas em
emissoras de rádio e televisão. Segundo a Lei 9.294 (1996), propagandas de
incentivo ao consumo de álcool só podem ser exibidas das 21h às 6h e não devem
estar associadas à ideia de maior êxito e desempenho em qualquer atividade,
como esporte, condução de veículos ou sexualidade.
A Sociedade Brasileira de
Pediatria ressalta, contudo, que no Brasil a falta de aplicação da lei e a
permissividade das famílias têm estimulado o consumo precoce de álcool. “É
absolutamente indispensável que o governo e as escolas estejam mais atentos e
ampliem suas ações, porque ainda são incipientes. É necessário que seja
proibida a propaganda do álcool na TV, a venda de álcool para menores de 18
anos, que seja proibida toda essa veiculação de beleza com cerveja, porque
cerveja também é álcool”, alerta Luciana Silva.
Recomendações e prevenção
Diante das graves
consequências do uso abusivo do álcool na infância e na adolescência, a
Sociedade Brasileira de Pediatria faz diversas recomendações aos médicos,
educadores e familiares. Entre outros pontos, a entidade defende o fortalecimento
da articulação entre as áreas de saúde e de educação para promover ações que
estimulem hábitos mais saudáveis.
A SBP destaca a participação
escolar, dos médicos e a estruturação do ambiente doméstico como estratégias de
proteção da criança e do adolescente. Por meio do diálogo e do estabelecimento
de limites, a família, o pediatra e educadores podem ser agentes relevantes na
prevenção do alcoolismo precoce, segundo o guia.
Para a Sociedade Brasileira de
Pediatria, a responsabilidade na proteção dos jovens é compartilhada pelos
pediatras, que podem orientar os pacientes não só com questões relacionadas à
saúde, mas também à educação e ao comportamento. O guia recomenda que, durante
as consultas, o profissional se mostre aberto às dúvidas e aos questionamentos
dos jovens e a ouvir as demandas dos pacientes sem julgá-los, além de trazer
esclarecimentos e apontar caminhos de prevenção. “Os pediatras têm papel como
educadores e orientadores das famílias, no sentido de mostrar as consequências
reais e os danos a curto e longo prazo”, acrescenta a médica.
Aos pais e familiares, a SBP
recomenda a não ingestão de álcool durante os períodos de gestação e
amamentação, a não exposição de crianças ao uso de bebidas alcoólicas em festas
familiares ou outras situações sociais e, principalmente, a orientar e
conversar com os filhos sobre os riscos do consumo precoce.
As recomendações incluem ainda
a responsabilidade dos gestores públicos, nas esferas municipal, estadual e
federal, principalmente na restrição da oferta de bebidas aos adolescentes e no
aumento da fiscalização da idade mínima, de 18 anos, permitida para beber. Os
especialistas sugerem o aumento de impostos e dos preços das bebidas, bem como
a proibição das propagandas alusivas, além de investimento maciço em projetos
de prevenção nas escolas, na promoção de hábitos saudáveis e de valorização da
vida, entre outros.
Seguindo as diretrizes da
Organização mundial da Saúde, a SBP sugere que a questão do uso do álcool e das
drogas seja tratada como um problema de saúde pública. “Para nós, é
indispensável o acesso à informação. Precisamos de medidas mais sérias, vindas
do governo e de campanhas nas escolas, para que as crianças e os adolescentes
se informem de que não devem se expor a volumes muito grandes de bebidas e
drogas nessa faixa etária, destaca Luciana Silva.
Fonte: Agência Brasil | www.sentosenoticias.com.br - Há 9 anos Juntinho de você, informando, entretendo e aproximando.
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